sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Passado, Presente e Futuro.

.O ANTES, o saudoso antes...


.Por vezes na vida de um ser humano existem momentos-chave capazes de definir e condicionar todo um futuro e trajecto de vida. Levamos uma vida ocupada, extremamente preocupada, ou demasiado leviana, muitas vezes à procura de um sentido para a nossa existência, concentrados em nós e no nosso, e trabalhamos, casamos, procriamos, ansiamos e sonhamos. Elaboramos projectos sobre o que faremos, o que diremos, para onde iremos, com quem iremos, no que investiremos para, algures e sem aviso, encontrarmos uma barreira extremamente bem demarcada com a qual colidimos. Inesquecível e traumatizante. Passa, invariavelmente a definir a nossa vida entre o que se é antes e o que se é depois. As aspirações, sonhos, planos, pensamentos, sensações, prioridades e padrões anteriores, tudo tende a diluir-se por entre as angústias e revoltas suscitadas por tal corte com o passado. Uma doença, a morte de alguém próximo, uma discussão, uma situação de violência, uma separação, uma falência, um acidente. Tudo pode servir de catalizador...
.E eis que a barreira se nos depara. E nos divide em dois. Marcando de tal forma o nosso psíquico, espírito ou físico que jamais se poderá voltar atrás... Dali em diante tudo será irreconhecivelmente diferente!
.Dizem que psicologicamente, um dos maiores desafios apresentados a uma pessoa que vivencia uma situação traumática assim, é conseguir discernir a ruptura e encará-la com aceitação. Tendo pois que olhar para trás e, se por um lado reconhecer o que perdeu como era e o que tinha, por outro, o que ganhou com o que passou a ser ou ter.





eu num jantar de primos em casa do meu primo Miguel nos meus tempos de estudante universitário, no Porto, algures em 2002 ou 2003. (da esq. para a dir. eu, o primo Nuno, o primo Miguel e o primo Rui). Os meus primos foram desde sempre para mim um suporte emocional e afectivo de inestimável valor!

.E acreditando que os meus amigos me conhecem como os conheço a eles. Que a minha família é parte integrante da minha pessoa tal como eu sou dela como um todo. Que dei (pelo menos) uma ínfima parte à sociedade do que ela me deu a mim. Fico com a tranquilizante sensação de que, pelo menos até aqui cumpri a minha parte de (razoavelmente - porque há que querer sempre mais) bom amigo, bom parente, bom cidadão.
.O que nada do que é exterior a mim sabe ou jamais compreenderá é a sensação de profunda perplexidade e injustiça que sinto por tal barreira me ter surgido na vida precisamente no momento em que eu melhor me encontrava.
.Quantos de vós sabem pelo que passei... Crises familiares, existênciais, de rumo, de orientação, de incerteza, de amores... Momentos altos como o céu e baixos, tão baixos que a dor e a desorientação provocavam alienação. Agruras e aventuras em que muitos de vós participaram ou que convosco participei . De uma coisa me posso orgulhar. Sendo por natureza uma pessoa independente e solitária, JAMAIS ESTIVE SÓ. Graças a vocês.
.Agora era um homem forte e decidido. Sem as ilusões e utopias de outros tempos, rendi-me a uma série de formalismos e convenções sociais a fim de perseguir os meus objectivos. Já havia assimilado inúmeras derrotas. E em Setembro de 2007 estava em boa forma física fruto de uma escolha por uma vida mais regrada desde a minha passagem pelo exército em 2006. Psícologicamente encontrava-me estabilizado, de mente limpa, focalizado na perseguição de algo que só a transposição de grandes sacrifícios me podia dar: chegar um dia a experimentar a carreira diplomática! Governamental ou Internacional. A minha formação universitária na àrea das Relações Internacionais (por mais que tenha sido acidental e expontânea como muito na minha vida) acabou por me despertar o desejo de poder vir a exercer diplomacia. Após falhar ingénuamente pela "porta principal", tentaria pela "porta das traseiras"... E o exército, ao qual tinha regresso marcado para 5 de Novembro de 2007 (um mês depois do acidente), era o primeiro passo rumo a uma estabilização profissional e financeira, com hipóteses de engrandecimento curricular e prossecução de estudos. Curta e dura, a primeira passagem por lá muito me influenciou e ensinou para a vida.
.Resumindo: sabia de onde vinha, onde estava e para onde queria ir. Pela primeira vez na vida.

eu (à dir.) e o Duque (à esq.) em Novembro de 2006 na EPA de Vendas Novas, aquando do meu juramento de bandeira. Uma cerimónia que me marcou imenso e que me fez sentir para sempre um pouco militar. Presenciada apenas pela minha sempre presente mãe e por dois amigos de Albufeira, muito especiais. Duque e Farú.

.Talvez o melhor Verão da minha vida...
.Era uma altura decisiva no meu percurso. Ao fracassar os objectivos da primeira passagem no exército, culminei uma fase que não mais queria repetir. Insegurança, desorientação e negativismo urgiam ser vencidos. E dei por mim numa enorme encruzilhada. Resignar-me a uma condição profissional medíocre, incerta e precária e consequente estado emocional titubeante. Ou arriscar, lutar e ambicionar algo mais sem ter medo de esgotar todas as possibilidades.
.Após iniciar o trabalho no Hotel Alfamar em Abril de 2007, e conseguir nova aprovação e ingresso no exército em Junho, passei um Verão em que talvez por não se ter passado nada de extraordinário, tenha sido tão marcadamente positivo. Sóbrio e ciente, cumpria as minhas funções de nadador-salvador e gozava os pormenores do dia-a-dia. O pôr-do-sol, o mar, a amizade. Equacionava e vislumbrava já, os meus objectivos mais imediatos. Sair de casa definitivamente rumo à minha vida. Talvez reatar uma relação antiga pendente. E enfrentar a vida de peito feito!

o Jonas, o Mor Marco e eu (da esq. para a dir.) no meu local de trabalho de 2007. Praia da falésia (Hotel Alfamar) final de Julho. O Jonas, meu amigo de confiança foi meu colega de universidade. Talvez o único amigo (com A grande) que terei feito por aquelas 4 paredes... Nesse verão por necessidade do Hotel, houve a oportunidade e convidei-o para vir trabalhar comigo. Fomos colegas de trabalho. O Mor Marco de férias pelo Reino dos Algarves é um dos meus Brothers da República dos Lysos onde vivi e cresci durante a minha carreira universitária.
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.No dia 30 de Setembro de 2007 pelas 8.30h da manhã rumava calmamente para o Hotel, vindo de Albufeira. Fazia um dos percursos habituais nas deslocações para o trabalho. A estrada Oura-Olhos d`Água.
.A manhã estava calma, com céu limpo depois de uma noite bem chovida. O piso já seco, desenrolava-se serenamente por baixo da minha Virago 250cc que havia comprado com o meu suor 4 meses antes. A paixão pelas motas existiu desde que com 19 anos tirei a carta de condução de motociclos. Nunca antes havia juntado condições para adquirir um veículo meu. Não eram as velocidades ou as acrobacias (que até fui desprezando com o tempo) que me atraiam. Era a condução. Eu em cima de um veículo motorizado em contacto directo com o meio envolvente.
.A certeza de encontrar uma praia já sem enchentes de veraneantes e sentimento do dever cumprido, bem como o epílogo das tarefas de desmontagem da praia, deixavam antever uns últimos 15 ou 20 dias de trabalho tranquilos, seguidos de uma pequena pausa de preparação para a nova etapa que começava a 5 de Novembro. Mal podia esperar!
.Quando saio da lomba de St. Eulália e entro na curta recta do Hotel Grand Real St. Eulália, apercebo-me de trânsito em sentido contrário. Cruzo-me com um carro, está outro nem 100 metros mais à frente na intenção de virar à esquerda e entrar para o Hotel, e está também à minha direita, na saliência da paragem do autocarro, uma máquina de limpeza de passeios a operar. São 3-4 segundos que distam desde esse ponto de entrada na recta até à entrada do Hotel, à velocidade de 60km/h que eu me deslocava. O suficiente para não ser visto pela condutora do veículo parado para entrar para o Hotel, que inicia a marcha, atravessando-se completamente na minha faixa de rodagem precisamente no momento de intercepção. Funcionou como uma parede.
.Embati em cheio de frente, minorado pelo reflexo de última hora que ao me fazer travar bruscamente me terá reduzido a velocidade do impacto em 10km/h. A sensação de ver o carro iniciar a marcha em cima de mim foi de um terror incrédulo. Porque se por um lado me assustei ao antever o que estava para acontecer, não queria acreditar como seria possível aquele carro estar a avançar. Mas aconteceu! E uma fracção de segundo depois eu esborrachava-me como uma mosca na parte da porta do passageiro.
.Parti o vidro do carro e fiz uma amolgadela na parte lateral inferior direita do carro com a parte frontal da minha mota, que ficou com todo o garfo da roda dianteira retraido para trás. Esta bateu e tombou para a traseira do carro, e este ficou imobilizado na perpendicular em relação à minha faixa de rodagem. Eu resvalei por cima do carro para cair imobilizado uns metros para lá do mesmo.
.Segundo as testemunhas fiquei em estado de choque. Pois eu julgava ter ficado inconsciente. Vai dar ao mesmo. Volto a mim alguns minutos depois quando o pessoal do INEM e da VMED estão à minha volta a aferir as minhas capacidades.
.Lembro-me de, com uma clareza cristalina, rapidamente ter pensado e raciocinado, após erguer um pouco a cabeça e ter visto esta sequência de imagens: o carro e a mota atrás, com uma pequena multidão a assistir ao aparato; o pessoal de socorro à minha volta a fazer o trabalho de sapa; e sentindo a dormência que sentia pelo corpo todo face à imobilidade das minhas pernas sem reacção; PEDRO, ACABOU. PERDESTE AS TUAS PERNAS!
.A Consciência...
.O que sentir? Revolta? Sim. Perplexidade, raiva? Claramente. Vingança, ódio? Não. Apesar da pessoa em questão apenas me ter enviado uma sms após 2 meses e, em Janeiro ter partido para França em busca dum futuro melhor. Apesar de se ter comportado de forma esquiva e incoerente nas primeiras semanas após o acidente. E apesar de ter tido apenas contactos directos com a minha mãe, 3 vezes por telefone em todo este tempo, e uma pessoal por iniciativa da minha mãe, aconselhada pelo advogado. Como se sentirá uma pessoa que, por manifesta negligência, falha e erro momentâneo, provoca tanto sofrimento a uma outra? Não terá a sua mágoa também? Não sentirá o espectro do perigo do tombo judicial e monetário a cair sobre os seus ombros? Claro que sim.
.Bastou convencer-me a mim próprio que não havia feito de propósito...

no Hospital São José em Lisboa, no dia 24 de Dezembro de 2007. (da esq. para a dir.) o Joca, a enfermeira Claúdia, o auxiliar Sr. Fernando e eu. Na Unidade Vertebro-Medular deste hospital fui acolhido após 1 dia nas urgências do hospital de Faro (sempre assente num plano rígido!). Aqui foi fundamental o trabalho de todos os profissionais de saúde para uma rápida consciencialização da minha situação real e o início da perpectivação do meu futuro.

.E adeus corpo são. Cheguei na 2a (01/10) de tarde e fui operado na 4a de manhã. Operação essa com o intuito de estabilizar a lesão vertebral através da fixação de material de osteossíntese formado por duas placas de 30cm cada, mais parafusos de fixação ao longo da coluna vertebral. Foi-me dito que a operação havia corrido bem, embora sendo muito delicada. Nos 15 dias seguintes sofri com muitas dificuldades respiratórias, fruto da lesão e agravadas pela anestesia da operação e por uma constipação que me acompanhava há já algum tempo.
.A medicação, à qual sempre fui céptico e resistente, passou a ser uma constante no meu dia-a-dia. Intra-venoso ou via oral, analgésicos, anti-inflamatórios, anti-bioticos, anti-espásticos, ansiolíticos, anti-depressivos, relaxantes musculares, anti-piréticos, anti-coagulantes, tonicó-relaxantes, etc, puseram-me a provar de tudo e, momentos houve em que vi que precisava mesmo de alguns deles.
.Diagnóstico: paraplegía ASIA A (American Spinal Cord Association). Ou seja, lesão completa. E se nos primeiros meses pós-lesão se torna algo precoce reconhecer o tipo de lesão, passando os grandes choques medulares e respectivos edemas, vão-se tornando evidentes as evidências. Com a fractura das vertebras dorsais 5 e 6, e consequente corte e esmagamento medular, o corpo passou a reger-se de forma autónoma e errática do peito para baixo. Ausência total de sensibilidade e capacidade motora. Compromisso profundo das funções metabólicas, imunitárias, de regulação de temperatura corporal, do aparelho vesícal, intestinal, reprodutor... A longa permanência numa tábua, aquando do resgate, fez-me também criar logo de imediato uma úlcera de pressão na zona sacro-ilíaca. Só após as primeiras semanas me apercebi da gravidade da situação com os enfermeiros e os cirurgiões a fazerem-me visitas regulares para me desbridarem a ferida (corte de tecido morto com bisturi e material decapante). Tal deveu-se à conjugação de diversos factores novos: falta de sensibilidade, déficite irrigatório e de aporte sanguínio e diminuição da eficiência do sistema imunitário. Ao fim de um mês, e com um buraco onde cabia um punho, estava pronto para a operação. Essa foi um sucesso não sendo preciso mais retalhos ou remendos e apresentando uma (relativamente) rápida cicatrização.
.À rápida assimilação que se impõe, exige-se uma rápida aprendizagem de toda uma nova forma de vida. E a escola começou ali mesmo naquela unidade de agudos do Hospital São José em Lisboa.
.Quando cheguei, fui internado num quarto com mais 3. Dois jovens tetraplégicos e um senhor de meia idade com uma paraplegía incompleta. Esse senhor, acabei por vê-lo dar uns passos ao fim de um mês. Os outros dois fizeram-me compreender o valor dos membros superiores! Com 4 meses de internamento conheci alguns doentes. Uns mais rotineiros, outros em situações traumáticas e agudas como eu. Com dois estabeleci ligação especial. Com o Paulo Candeias da Fuzeta, com quem continuo a manter contacto. E com o Joca de Cabo Verde, onde ainda irei um dia comer uns camarões acompanhado do seu dentista, o Dr. Bernardo Carneiro (meu amigo pessoal) que num gesto de boa-vontade incomparável usava as visitas que me fazia (vindo do Algarve) para desenhar e executar uma prótese dentária para o Joca!
.O Joca envolvido numa rixa em Cabo Verde viu-se tetraplégico no seu país. Encostado numa maca ao sabor das moscas num qualquer hospital da cidade da Praia, foi ao abrigo de um acordo inter-estatal, enviado 3 meses depois para resolver 3 escaras (que fariam a minha parecer uma escarinha) que ameaçavam tirar-lhe a vida. Pai de 2 filhos, na sua permanência de 1 ano em Portugal tudo o que viu do nosso país foi uma ambulância do aeroporto de Lisboa para o hospital, o tecto do quarto do hospital, e uma ambulância de regresso ao aeroporto no fim de todo o processo.
.Se eu contava com a família e os amigos, estes não só não me desiludiram, como não pararam de me surpreender. A familia LYSA, que sempre presente, me deu novos amigos, pois além dos meus brothers da minha geração que faziam centenas de quilómetros para me ver, contei com muitos, assiduamente, que mal conhecia. Poderiamos ser da mesma irmandade, mas era eu quem, no fundo ainda não tinha visto na plenitude o que é ser um LYSO!! "Para que serve a família?", perguntavam-me eles quando me visitavam.
.E os meus amigos de sempre do Algarve, que também fazendo centenas de quilómetros, me vinham ver sempre com a boa disposição e o ânimo que eu tanto necessitava. E vieram às dezenas. Chegavam-me a encher o quarto. Visitavam-me a mim e aos meus colegas de quarto. Era um fartote!!
.E os meus amigos de Lisboa. A Joana e o Jorge sempre à minha cabeceira. Muito falamos e muito me incutiram eles... O João e a Albina. Neles ganhei uns tios.
.E os inúmeros conhecidos que apareciam para dar uma força e para me fazerem acreditar que estava nos seus pensamentos.
.Pensava muitas vezes "e quem não tem nada disto?", "e se eu não tivesse nada disto?". Mas felizmente tive e tenho. E é como um poço de energia. Como um contrato tácito que me faz não poder desistir...

(apartir da ponta esq. da mesa) o Mor Augusto, eu, o Antero, o Álvaro, o Vítor, o João Rosa, e o Capela, mais o Paixão Melo (a tirar a foto). Os Lysos em peso em Alcoitão. Como até hoje, estas gerações mais antigas de Lysos não mais me largaram a mão! Neste dia aproveitaram a vinda do meu contemporâneo Capela para me visitar e juntaram-se. Aproveitaram para se darem a conhecer à médica fisiátra que me acompanhava...

.Alcoitão foi o sítio onde sofri o maior choque psicológico destes últimos meses.
.Chegar e ver tantas cadeiras-de-rodas a operar...sentir que era mais uma...observar as caras, umas conformadas, acomodadas, ambientadas, outras de puro sofrimento, foi difícil. Por outro lado, enquanto que ter uma perda fecal numa cama dum hospital já é duro e frustrante, tê-la em plena actividade física ou em andamento na cadeira é ainda pior. Penso que já sabia alguma teoria, mas ali vi a prática em toda a sua plenitude e complexidade. E em massa!
.Depressa me apercebi da segunda sorte que havia tido dentro do azar. É que por oposição à grande maioria dos sofredores de doenças, acidentes, crimes ou o que for, eu pertencia à minoria algo protegida por uma companhia de seguros. Após todo o imbroglio legal em que o meu caso foi caindo, a seguradora passou o termo de responsabilidade a permitir a minha ida para Alcoitão, abrindo um precedente para o futuro relativo a vários tipos de cuidados que um acidentado de trabalho possa precisar e tem por direito.
.De Alcoitão tirei várias ilações e conclusões. Relativas à condição humana, ao estado da Nação e as condições de saúde disponíveis no nosso país, aos atributos, limitações e predisposições do trabalhador português... Dei por mim a criticar muita coisa que via estar mal à minha volta, sem no entanto me aperceber que a positividade teria que vir de dentro de mim. Que só isso bastaria para confrontar as dificuldades próprias de um sistema imperfeito. Critiquei médicos frios e distantes, enfermeiros e auxiliares em número insuficiente, pouca carga de trabalho para os doentes, horários castrantes e pouco voluntarismo por parte de psicólogos e assistentes sociais que muito poderiam fazer para precaver e melhorar as condições de vida futura dos doentes. A revolta estava na minha cabeça. Mas que mais se pode pedir a uma instituição que apesar de tutelada pela Santa Casa vive nos dias de hoje num mercado de saúde globalizado, e cada vez com mais concorrência?! Uma instituição que vê centenas de doentes internados por ano com problemas tão díspares como traumatismos cranio-encefálicos, avc`s, doenças degenerativas do sistema nervoso central, cancros de medula, mielites, inflamações e infecções medulares, paraplegias e tetraplegias, amputados, bi-amputados, doenças e má-formações congénitas, e mais, muito mais...
.O escape foi mais uma vez a protecção dos meus amigos. Sem grandes romarias devido à impossibilidade das circunstâncias, apareciam sempre nas alturas certas. Quando estava bem, para que com eles pudesse partilhar a alegria, e quando estava mal, para me tirarem de poças, e às vezes fossas em que me via atular. E telefonavam, e telefonavam.
.Foi ali que meses depois voltei à realidade do mundo exterior. Fui ao CascaisShoping com a minha mãe e a Joana, fui a dois almoços Lysos com o Augusto, fui passear à Eiriceira com o Pedro, a São e os miudos. E foi graças aos meus amigos que, com a sua motivação e dedicação, me convenci a sair para pernoitar fora pela primeira vez. Ao fim de 6 meses voltava a estar entregue à minha sorte sem enfermeiros, auxiliares ou médicos para aplacarem as minhas perdas, as minhas dores ou as minhas disreflexias se as tivesse, as minhas transferências e os meus posicionamentos. A gota de água foi quando naquela noite a minha amiga Joana, cheia de força me olha nos olhos e pergunta "há quanto tempo já não sais?", "não falavas estar farto de camas?", "e que assim que viesses para Alcoitão te irias soltar e aproveitar a possibilidade de sair?", "porque te rendes a coisas que te acompanharão para toda a vida e com as quais terás sempre de lidar?", "quanto mais cedo mais depressa te habituarás", "se não hoje, quando?"... E saí dali nessa noite acompanhado do grande Jorge Morgado. Era o 25 de Abril de 2008. Nessa noite libertei-me de alguns demónios que me assolavam o pensamento.
.Os do Algarve continuaram a vir. Os do norte igual. Os Lysos de Lisboa sempre presentes. E o contrato com a vida continua em vigor...
.No entanto, alí, sinto que falhei com os meus colegas de quarto, com os meus colegas de internamento e com os profissionais que mais de perto lidaram comigo. Não me dei a conhecer. Não quis conhecer. O meu egoísmo não me deixou ir mais além do meu sofrimento.
.Mas algo me ficou por perceber relativo ao funcionamento daquele Centro... O comportamento do corpo médico, a renitência e resistência relativos à discussão e abordagem de novos métodos e terapeuticas, o financiamento (ou a falta dele) por parte de tão rica instituição como a Santa Casa da Misericórdia, etc, etc...



.O PRESENTE...e assim há que viver.
----------------------------------------------------------------------------------.Dou por mim nesta situação e por mais que queira crer que tudo não passa de um sonho do qual despertarei na minha cama do Hotel Alfamar para mais um dia de trabalho, teimo em não acordar...
.Estou agora internado no novo Centro de Medicina e Reabilitação do Sul em São Brás de Alportel, para o qual pedi transferência à companhia de seguros de trabalho, a entidade que se tem responsabilizado e terá que continuar a responsabilizar-se por todas as despesas médicas, clínicas, terapêuticas, de ajudas técnicas (cadeiras e demais aparelhos indispensáveis), e ajudas às adaptações arquitectónicas a realizar na habitação do trabalhador que adquire uma incapacidade parcial ou total a nível permanente. Claro que todas estas ajudas previstas por lei têm as suas limitações. Sendo de qualquer forma, uma situação totalmente diferente de ficar desamparado ao abrigo da Segurança Social... Sim, porque o facto de circular em direcção ao local de trabalho por um percurso habitual e a uma hora que precedia o horário normal de trabalho, transformou o acidente não só num caso de direito cível e penal (a partir do momento que surge uma queixa-crime), mas também num caso de direito laboral.
.Este novo Centro gerido pelo Grupo Português de Saúde (BPN) surge de uma parceria público-privada com a Administração Regional de Saúde, ocupando as instalações do antigo sanatório com novas ampliações, e surge na tentativa governamental de expandir a rede nacional de cuidados de saúde na área da reabilitação, que contava até agora somente com dois Centros específicos para esta função além dos diversos hospitais com pequenas valências nesta área. O da Tocha (público) e o de Alcoitão (privado - Santa Casa da Misericórdia).
.Obedecendo a novos conceitos e trabalhando sob métodos diferentes, este Centro, encabeçado por uma directora clínica extremamente competente e voluntariosa e uma equipa médica muito disponível e capaz, compreende ainda um grupo de enfermeiros e terapeutas muito jovens, sem vícios profissionais, com vontade de trabalhar e de ajudar. O lado humano é de facto uma grande mais valia, porque em fases mais agudas, este tipo de patologias necessita tanto de medicina física e técnicas de reabilitação como de carinho e compreensão! É um Centro pequeno, familiar e recente, com vontade de mostrar resultados. A título pessoal tenho muito que agradecer a estes profissionais pelo bem que me acolheram e pelo interesse e carinho que têm demonstrado.
.Não que tivesse sido mal tratado onde quer que tenha passado, mas aqui tenho-me sentido bem, acarinhado e alvo de forte investimento.
.É também salutar como, não dispondo de uma máquina monstruosa e enraizada como Alcoitão, se consegue aqui estar envolvido num ambiente calmo, confiante e tranquilo. Vive-se também num regime liberal e compreensivo sem recurso a regras rígidas ao estilo prisional, que em nada favorecem o bem-estar psíquico e psicológico dos internados.
.O meu processo de reabilitação caminha para um términus. À medida que se vão regularizando os mecanismos físicos e fisiológicos como os treinos intestinais e vesicais, que me tornarão dependente para toda a vida de uma panóplia de instrumentos farmaceuticos como algálias, sondas de esvaziamento, fraldas, supositórios, medicações, etc, bem como à medida que se vão definindo as ajudas técnicas necessárias, e se aguarda uma resposta para breve, por parte da companhia relativa às obras em minha casa. Uma vez que a minha lesão é grave e completa, não se esperam deste tipo de reabilitações resultados milagrosos. Pelo contrário, treinam-se as pessoas para serem o mais funcionais e autónomas possível a viverem numa cadeira-de-rodas. E esse objectivo no meu caso está quase alcançado. Ou pelo menos, terá que ser testado. E só o será quando eu voltar a viver longe do apoio permanente de técnicos de saúde.

Já em casa, num dos fins-de-semana que lá tenho passado. Numa cadeira-de-banho emprestada pelo Centro, tomo banho num duche exterior de água fria porque é Verão. Se as obras demorarem e se arrastarem pelo Inverno não me resta alternativa senão retroceder no tempo e voltar ao tempo em que estava acamado e tomava banho "à gato"!

.As limitações...
.É do senso comum constatar a falta da capacidade locomotora num paraplégico ou num tetrapégico. Mas o que significa mesmo essa falta de capacidade? Significa uma prisão! Uma prisão interna, física e psicologica, dentro do próprio corpo da pessoa, que passa a funcionar como um enorme colete de forças que estrangula a vontade própria da pessoa enquanto ser humano. E uma prisão externa face às inúmeras limitações arquitectónicas do meio envolvente. E não nos iludamos, não são só as limitações impostas pelo homem ao homem através da falta de rampas no acesso a edifícios, passeios, através da existência de calçada, bonita mas péssima para as cadeiras-de-rodas, multibancos, balcões, comboios, autocarros inacessíveis a deficientes físicos, que os fazem auto excluírem-se. São também as próprias barreiras naturais como vales, montes, cursos de água, areia, calhaus, que não dão a oportunidade de serem transpostos por cadeiras-de-rodas. E pode-se pensar, "tudo isso é ultrapassável com ajuda de amigos, elevadores, veículos especializados, boa-vontade, preserverança". Claro que sim. Mas o que acarreta essa DEPENDÊNCIA em termos psicológicos para o deficiênte?
.Mas é assim que tem que ser. E é desta forma que se tem que lutar...
.As minhas limitações vão muito para além da falta de mobilidade contornada por uns pares de rodas.
-Estão no equilibrio. Ao lesionar uma zona alta da coluna fiquei com um controlo nulo de todos os grupos musculares abaixo do peito, o que faz com que, desamparado das costas, o meu corpo funcione como um pêndulo, ou melhor, como algo que pesa cem quilos assente em cima de algo que pesa dez. Ou como tentar equilibrar uma bola de ténis com um palito. Como é de calcular, qualquer tarefa da vida diária que implique o uso dos braços sem apoio nas costas, é uma aventura. Apanhar algo do chão, chegar ao telemóvel, alcançar algo de uma prateleira, lavar a cara num lavatório menos adaptado ou, sentar-me na cama para me vestir.
-Estão também na sensibilidade. Ao perder a sensibilidade total da zona da lesão para baixo, não sinto se me queimarem com um esqueiro, não sinto a picadela de um mosquito, não sinto se a água está quente ou fria, nem uma carícia, um beijo...
-Estão a nível metabólico. Reduzindo o sistema imunitário e a circulação sanguínea abaixo do nível da lesão, qualquer ferida, lesão ou complicação que surja demora muito mais a curar e sempre com riscos bem reais de complicações.
-As limitações ao nível das necessidades fisiológicas. Que são feitas sem aviso, acarretando uma grande disciplina relativa a tudo o que se ingere ou come e em relação aos horários em que se procura autonomizar e educar o organismo em relação a essas necessidades. E todas as complicações que isso acarreta como fraca mutilidade intestinal, infecções urinárias, renais, etc.
-Os espasmos musculares, a espasticidade dos membros e a manifestação de clónus. São uma limitação quase invisível, uma vez que muitas vezes não são visiveis nem perceptiveis. Mas são incómodos e dolorosos. Como choques eléctricos ou tornando o corpo rijo como uma tábua, estas manifestações comprometem na altura de passar da cadeira para um carro ou da cadeira para uma cama. Perturbam o sono. Perturbam as diversas actividades da vida diária.
-Limitações no sono. Há 10 meses que não sei o que é ter uma noite calma de um sono longo e profundo. Se não são os espasmos, é a própria auto-disciplina que impõe mudanças frequentes de decúbito a fim de prevenir complicações de pele...
-As limitações a título reprodutivo. Psicológicas ao nível da auto-imagem, auto-estima e auto-confiança...
.Tudo junto: uma grande LIMITAÇÃO!
.Não mais posso usar da espontaneidade que tanto gostava. Agora já não é "é para ir, então vamos", agora é "é para ir, então deixa-me pensar e planear um sem número de questões e ver se posso mesmo ir"... Não mais posso usar a liberdade como usava. Se simplesmente para me deslocar do ponto A para o ponto B passei a precisar de ajuda...


.E no entanto tenho a plena consciência do que, apesar de tudo, ainda tenho a meu favor. Uma habitação condigna e com hipóteses de ser adaptada. Apoio familiar e muitos amigos atentos e interessados. Sei que há quem nada disto tenha...

A minha cicatriz resultante da escara na zona sagrada.

A cicatriz resultante da operação de estabilização dorsal. De todas as que ganhei (no nariz, na pálpebra, no pescoço, na cabeça) este "fecho eclaire" bate, sem dúvida as outras aos pontos!
.De resto...
.O dia-a-dia tem-se passado no centro. O trabalho de ginásio com o objectivo de melhorar a capacidade corporal para as actividades funcionais. As visitas esporádicas ao psicólogo para agradáveis conversas que trazem sempre uma nova perspectiva sobre a forma como vou vendo a vida. O tempo que se passa pela enfermaria em contacto com os outros doentes. E mais recentemente, as idas à piscina, que após contratempos com uma pequena escara no calcanhar esquerdo e a espasticidade da bexiga que me prendeu novamente à álgalia por mais 2 meses, tornaram-se realidade. Além dos dados adquiridos ouvidos em conversas de corredor ao longo de todos estes meses, de que o paraplégico, tetraplégico, hemiplégico ou hemiparético sente uma enorme leveza e profunda descontracção em toda a zona do corpo não controlada quer durante a presença no meio aquático, quer no imediato a seguir, a minha mais bem-vinda constatação foi que, POSSO NADAR! A observação que havia feito a algumas pessoas em situações semelhantes à minha deixava-me reticente. À semelhança de conversas que havia tido com o professor de natação livre de Alcoitão, especializado em natação adaptada. Tudo iria depender da densidade óssea, grau e tipo de espasticidade, controlo anaeróbio... O que constato ao fim de uns pequenos ensaios é que não sei como, nem quando, nem onde, mas um dos desejos que trago desde o início da minha lesão poder-se-á tornar realidade. Vir a NADAR! Como um deficiênte é claro, mas a nadar!
.Mentiria se dissesse que o meu dia-a-dia tem sido feliz ou normal. Ver todo o ajuste e adaptação feito pelos meus pais em relação à situação, o seu sofrimento, faz-me sentir muitas vezes como um peso que se atrapalha a si próprio e aos outros.
.Vou-me entretendo com o processo legal que deverá conhecer desenvolvimentos substânciais logo que receba uma alta clínica e, por conseguinte, comece a ser vistoriado por juntas médicas. Daí sairá um grau de incapacidade que será fundamental para a definição de várias questões futuras como a possível aposentação ou o averbamento da carta de condução para o estatuto de deficiente. O processo de trabalho decorrerá de forma mais-ou-menos pacífica, julgo eu. Já o processo cível e penal, dado o afastamento da seguradora da outra parte alegando irregularidades na apólice, e pela sua complexidade e morosidade habitual, presumo que se arrastará no tempo.
.Vou-me entretendo também com o processo médico. Procurando investigar e documentar-me o mais possível para poder abordar os médicos, dissipar dúvidas e perceber cada vez mais os contornos do meu problema.
.O que tem sido descorado é o planeamento do amanhã, ao nível pessoal e profissional. Mas tanto me ocupam as questões de hoje, que o amanhã me parece tão longinquo... A verdade, é também que nestas circunstâncias, planos a longo prazo não parecem muito plausíveis.
.Vou passando os dias num misto alternado de cinzentismo sem perspectivas nem motivação, com momentos em que acredito poder ainda ser feliz e funcional. Como me disse a minha amiga Sofia Alegre um dia, "espero ver-te, se não a andar, a ergueres-te novamente como um homem!"...
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O FUTURO, a quem pertence...
.O futuro só a nós pertence. Continuamos a ser os donos das nossas escolhas. Por mais barreiras fracturantes que se nos deparem, dificuldades, obstáculos e adversidades, seremos sempre nós a determos uma palavra final sobre o que fazermos com as nossas escolhas. Humildade, sinceridade, justeza, amizade, lealdade, fidelidade, transparência, altruísmo, espírito de sacríficio, de luta, de trabalho, nobreza de pensamento e de sentimento, serenidade... Seremos nós a escolher viver assim, com princípios, ou não.
.Tornei-me descrente no futuro da humanidade. Com o tempo, e toda a observação social, relacional e política que fui fazendo, sentimentos de pessimismo realista ou realismo derrotista foram brotando de mim. Será agora altura de ver o mundo com outros olhos?
.Não sei o que farei nem o que serei no futuro. Quero ser válido e produtivo. Pelo menos para ajudar quem me ajuda a mim. Essa dívida trago-a comigo.
.Gostava de um dia ter a minha família. Ser pai e ver alguém crescer.
.Gostava de um dia morrer, sem antes olhar ao meu redor e admitir para mim próprio que abandonava um mundo melhor do que o que havia encontrado.
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.A minha cura...
.Continuo céptico e realista o suficiente para crer que não se adivinha fácil. Pelo menos de uma forma idílica como muitos acreditam. Dada a complexidade da situação, parece-me que haverá dois caminhos. O da solução e o do remedeio.
.Pelo segundo, acredito que técnicas biónicas, próteses e ortóteses biomecanicas virão, a médio prazo, minorar os sofrimentos e limitações de quem sofre de patologias vertebro-medulares. Como alías já se investiga com resultados positivos, especialmente em Israel, Japão e nos EUA. Estas poderão auxiliar a marcha, o control de esfinctéres, etc.
.Quanto à solução, prevejo-a muito longínqua. Em primeiro, no campo económico, a contrariar os interesses de governos, seguradoras e particulares que desejam abreviar custas e despesas avultadas e vitalícias com pessoas portadoras de deficiências derivadas de problemas medulares, temos os interesses de governos e multi-nacionais fabricantes de toda uma panóplia inimaginável de produtos usados por estes milhões de pessoas. Em segundo, sendo medicamente um grande desafio, será natural que quando uma solução surgir por regeneração celular, implante celular, implantes de outra ordem, transplantes ou o que for, leve muito tempo de verificação experimental até se considerar plenamente viável, como qualquer avanço médico/ciêntifico. Tardando depois ainda mais a generalização dos procedimentos a todo o mundo. Quer por capacidades técnicas e compatibilidades físicas com o tratamento, quer pelos volumes das carteiras ou força das influências... De qualquer forma, não está no horizonte. E experiências já iniciadas em todo o mundo, e em Portugal, nomeadamente no campo das intervenções com culturas de celulas estaminais e limpezas e remoções cirúrgicas, têm tido resultados tão dúbios e incipientes, que indicia que o caminho não deverá ser por aí...
.Por tudo isto, é bom não criar expectativas demasiado altas, ciente que qualquer melhoria é, e será muito boa.
.Sou paraplégico e assim continuarei...

16 comentários:

sandra sulemane disse...

pedrinho... meu amiguinho....

k saudades de ti das nossas mini converssas, foi tao bom ter noticias tuas

fico feliz por saber k estas a encontrar o teu caminho e kero apenas desejar-te muitas sorte, saude paz e amor e k podes contar sempre mas mesmo sempre comigo, estas sempre no meu coraçao.

mil beijokas

sandra sulemane
(amiga da soninha k te visitava em alcoitao)

Anónimo disse...

Epa,tronko:

Ja pronto vamos conversar, mais ja temos falado... A cena ta na mente...

Poderas ser mais eficiente que outros, con certeza, assim como outros, sin deficiencia aparente, seran mais ineficientes que tu. Tudo depenede do momento y da voluntade y eu sei que a tua e grande.

Segundo o exercito, lembra-te, eu so "INUTIL TOTAL". Tudo e enfocar correctamente... encontrar aquilo que realmente`pode te dar satisfaçao na tua situaçao. Sei que pode parecer fácil fallar nisso, mais tu ja sabes...

No ha mais... terás que buscar cómo ocupar o tempo... o que este passe mais rápido... ou ambas coisas.

Ja estou lá.

Anónimo disse...

Mano....

não tenho palavras para te escrever, mas tenho muito para te falar...
És e sempre serás alguem que eu admiro...alguém que eu olho e digo que se trata de um homem a sério...um amigo incondicional...nunca deixas-te que algo te fizesse frente...sempre passaste todos os obstaculos com um sorriso na cara...
Continua puro como és...para mimi serás sempre o irmão que não tive...o gajo a que eu buscava conselhos....

resta-me apenas mandar-te um abraco....em breve estarei contigo...

narongas

Anónimo disse...

Olá Pedro, provavelmente não te recordarás de mim, dos tempos do Campismo, ainda para mais todas as voltas que a vida já deu e os anos que já passaram. Passei por aqui e passei também a ver de uma forma diferente como pequenas coisas podem ser muito importantes e como a coragem e determinação são mais fortes do que qualquer limitação. Não me vou alongar para não correr o risco de entrar em clichés e frases feitas, vou continuar a acompanhar o teu Blog mas para já apenas te deixo um grande e profundo abraço de amizade.

Anónimo disse...

Li o teu blog. E admiro o relato profundo e a análise fria que consegues realizar com plena consciencia onde a maioria se entregaria à vitimização e ao desespero. A natureza do que exprimes, apesar de te ser despertada por uma situação tão especifica como um acidente tem algo de universal. Os limites que o nosso corpo nos impõe. A vanidade com que levams a vida ignorando esses mesmos limites, essa mesma fragilidade...

gostei muito de te ler. Obrigado pela tua força e pela tua mensagem. desejo-te o milagre, ou pelo menos que acredites nele.

Abraço

Anónimo disse...

olá pedro... deixas-te-me com duas coisas na cara...uma lagrima a cair pelo teu relato preciso de todo o "esquisito ano" que tens passado sem que eu tenha estado muito em contacto , e um sorriso...pelas broas que vais mandando no português!!(just kidding)
Agora que o trabalho vai-nos deixando respirar um pouco, ver se fazemos um get together em armação ja com algumas alterações no DESTACAMENTO...
Um abraço sentido deste teu amigo e os meus parabéns por um blog que nos ajuda a perceber o que podemos ver mas não sentir...

FORÇA PETER HEINZ-BRUGAN...(BEST D.J OF ALDEÃO SESSIONS 2007)

The Mystery Artist disse...

Brother, depois de ler o teu relato deixaste-me desarmado e quase sem palavras...
Curvo-me perante a coragem de emitires o teu testemunho com a lucidez e racionalidade com que o fazes.
Como diz o Zé, outros (e esses outros são concerteza a grande maioria, onde talvez muito de nós que estamos agora do outro lado, nos incluiríamos) teriam a "tentação" de cair na vitimização e no desespero, mas tu não. Mais uma vez, preferiste encarar as coisas e deitar mão à obra
Mantém essa coragem! Mantém essa clarividência de espírito!
Tens muito povo contigo que continua a acreditar em ti.
Eu acredito!
Força Brother e manda um abraço meu para o Destacamento Andrade!

Marco

Tiago Inácio disse...

Amigo Pedro,

O que dizer após ler o teu relato visceral, profundo, de uma frieza, clarividência, lúcida coragem e pragmatismo a que eu, infelizmente e apesar de levar quase 25 anos naquilo a que em tom de brincadeira refiro como “carreira de deficiente”, nunca consegui mergulhar intensamente numa análise tão fidedigna e simplesmente real daquilo a que nós (e apesar de termos patologias diferentes) temos de nos sujeitar no quotidiano. Sendo eu um sacana por vezes distante e com alguma dificuldade na expressividade genuina e exteriorização de emoções, talvez motivada pela longa caminhada de erros e enganos médicos a que fui sujeitado, as intrínsecas dosagens de intensa dor fisica e emocional, como sabes em certa parte.
Ao ler a tua narração, não pude conter a comoção e o nó na garganta adensava-se enquanto perscrutava cada linha. Revejo-me em quase tudo, apesar da minha deficiência ser congénita e em nada similar à tua.
O choque inicial com Alcoitão (ainda em criança), as centenas que vi nos corredores, uns melhores, outros piores que eu; a mágoa a que infelizmente ainda me vejo refém por estar enjaulado num corpo limitado fisicamente chocando com as potencialidades e anseios a que o meu intelecto me exige; a esperança num futuro diferente; o corte momentâneo, por vezes duradouro com o que me rodeia, o desacanto e o desalento com o presente, e todo um vasto rol de considerações que talvez tenhamos em comum, ou talvez nem tanto.

Acho o teu blog de uma enorme importância, tanto para ti como catárse para o que se vai passando na tua vida, como para mim ou demais seres deficientes, (ou como prefiro rotular-nos: não padronizados fisicamente por comparação com a maioria), para a comunidade, teus amigos e entes queridos. Para além da função informativa, quem sabe, o teu blog não sirva de motor de consciencilização para a nossa sociedade tacanha e retrógrada e pôr fim e de uma vez por todas a que a franja maior da sociedade não nos veja como pobres diabos a quem não se sabe bem ao certo o que se há-de fazer. Integração social sim, sem sentimentos de comiseração, preservando sempre aquilo a quem nem os designios da natureza aliado à incompetência humana e agruras da vida no meu caso, nem a estupidez incompreensiva daquilo que te aconteceu no dia 30 de Setembro jamais retirará, a índole e a integridade.

Acho que temos em comum o desejo de vencer, apesar dos pesares, aceitando com humildade toda a ajuda e solidariedade daqueles que nos rodeiam ou possam vir a rodear.
E um dia, quando os dois estivermos no topo daquilo que almejámos para nós próprios, espero que nos encontremos para trocar ideias ou beber umas cervejolas.

Por último gostei da ambiguidade do titulo do teu blog. Ser deficiente, Verbo, enquanto registo existencial da multiplicidade de vicissitudes? Ou Ser deficiente Adjectivo enquanto retrato exterior da representação corporal das limitações e alterações fisicas?

PS: Vê la se escreves logo a grande aventura no Oeiras Alive.

Vemo-nos lá pros lados de Almargens

Um grande abraço

Tiago

Anónimo disse...

Pedro, meu amigo peludo:

Sabes o comentário que te ia deixar mas isto está tão profundo que até parece mal :)
Todas as palavras que possa escrever aqui nunca serão capazes de espelhar as longas horas de conversas, e tudo o que penso e sinto não são, certamente, novidades para ti. Resta-me sim relembrar que temos UM ANO e um objectivo , fica por escrito! :)

Beijo
Joaninha

Anónimo disse...

um abraço pedro.

o meu msn é: rodrigokm@gmail.com
Se puderes faz um add.

Anónimo disse...

Pedro...
Enviei-te um mail, por favor lê.

Bjos
Gisela

Anónimo disse...

Olá...lembras-te de mim?Gostei muito de ler o k escreves, posso dizer k há partes muito emocionantes. Pareces estar melhor e menos revoltado k quando passaste aki por Alcoitão. confesso k fico um pouco triste por não teres também realçado mais os bons momentos e bons profissionais e dedicados k há em Alcoião, perfil com o qual me identifico!vai dando noticias.
bjinhos
Christelle

Anónimo disse...

olá Pedro
Gostei de ler o teu Blog, serviu para eu perceber o que vai na cabeça das pessoas com quem eu lido no meu dia-a-dia. Espero que esteja tudo bem ctg e que consigas ser feliz durante a tua vida. pode-me dar noticias para o meu e-mail natachasousa@portugalmail.pt. beijinhos

leonor disse...

Olá Pedro. grande vencedor, lutador e com tanta apetência pra escrita. És o maior. Vou-te ver brevemente e conversamos sobre a tua vinda aos Açores. um beijo do tamanho do mundo

Sónia Matos disse...

Olá Pedro, cheguei ao teu blog através do blog dos "The Mystery Artist", conhecemo-nos no Centenário da Républica, Sónia de Carrazeda? Depois de ler um pouquinho do teu blog confirmei a ideia com que fiquei no fim de semana em que nos conhecemos, és de facto daquelas pessoas que já não existem nos dias de hoje...Pede ao Marco o meu mail e manda noticias ok?
Um beijo muito grande para ti e uma grande beijoka para a Dona Zi;)
Aguardo noticias...

Junior PG2 disse...

Sou deficiente físico e seu relato é realmente tocante, porém não me conforme nem me conformarei com essa situação. E já existem medicamentos que diminuem em muito a falta de controle que temos de nosso tronco e das necessidades fisiológicas bem como o tratamento com células-tronco é fato e brevemente trará a cura da mesma forma que já apresenta a cura para diversas patologias.