A AMIZADE!
.No dia 27 de Junho de 2008 estava programado, ao que julgava, um jantar de amigos. Em conversa com o meu "Bruou" João Pedro e com o Cajó, entre outros, que desde que cheguei a São Brás fizeram questão de me visitar, apoiar e inteirar das minhas necessidades, havia ficado apalavrado um jantar entre o nosso grupo de amigos. Uma vez que cá estava, era Verão e havia disponibilidade do pessoal, impunha-se um encontro com a malta.
.Mas nas últimas conversas que tive com eles, começaram a perguntar-me se precisava de alguma coisa ou quais as minhas necessidades materiais prementes. À semelhança de reptos lançados, já em São José, pela minha família Lysa e em última instância, os desabafos feitos pela minha mãe, me dizendo que se tivesse que vender a casa para me conseguir levar a Cuba ou para o que fosse, que o faria, eram conversas, insinuações e sugestões que me causavam desconforto.
.Quando, logo em Novembro, os meus colegas de trabalho do Hotel Alfamar, numa prova de simpatia e lembrança sem igual, me presentearam com um cheque chorudo, à semelhança de outras pessoas que me visitavam no hospital e me iam dando dinheiro para que dele dispusesse da forma que entendesse e necessitasse no futuro, um sentimento ambíguo em mim foi nascendo.
.Por um lado, a focalização de atenções desta forma na minha pessoa, não era algo a que estivesse habituado nem que me fizesse sentir confortável. A sensação de ser alvo de esmola ou comiseração ou de sentir que era motivo de esforço por parte dos outros não me deixava sereno. Dava por mim a pensar muitas vezes, "tanta gente que precisa e sem quem ajude" e, "porque me querem tanto ajudar a mim?". Por outro lado, tendo a certeza da irresponsabilidade no acidente e da isenção de culpa, era-me cómodo acreditar e esperar que tudo me fosse dado sem hesitação por parte das seguradoras. Mas a seguradora automóvel da outra parte "saiu de cena" ao fim de mês e meio, alegando irregularidades na apólice celebrada com o seu cliente e transportando o processo cível para uma dimensão completamente diferente... A seguradora de trabalho, apesar de estar a actuar de forma legítima, cobre apenas as suas responsabilidades... Tendo já um outro conhecimento do enquadramento legal em questão, é fácil admitir que, o ideal é longinquamente impossível. A restituição da situação anterior, impossível. Uma compensação justa e reconfortante, mais que improvável.
.Daí que, quando uns dias antes me apercebi por uns mails cruzados de uma “mailing list” a que pertenço, que afinal o jantar de amigos seria um evento de outras proporções, a realizar na Escola Secundária de Albufeira, com o objectivo de promover o convívio entre pessoas de vários quadrantes diferentes e recolher fundos para apoio à minha pessoa, me senti receosamente surpreendido. As emoções fundiram-se num receio e timidez não muito habituais em mim.
.Aquela sexta-feira chegou e o meu "Bruou" veio-me buscar a São Brás e levou-me para a escola. Quando cheguei fiquei petrificado. Pelo número de pessoas que lá se encontravam e pela avidez com que me queriam falar. Pessoas que já não me viam há anos e me encontraram nesta situação, amigos que, embora sabendo do sucedido, já não me viam há um ano, amigos de amigos e familiares de amigos que tinham curiosidade em me ver e conhecer. Senti-me desejado e querido! De certa forma senti uma retribuição pelo que sempre acreditei, ter sido um Amigo do Amigo. Apesar de não ter conseguido dar a devida atenção a ninguém em particular e de não ter sido capaz de seguir o impulso que me direccionava para umas palavras de agradecimento ao microfone, penso que as pessoas ficaram satisfeitas com o evento.
.Acho que naquele dia acabei por pacificamente concluir que todas as ajudas são bem-vindas. Por mais estranho que seja ver as pessoas a darem-me dinheiro, sei que é uma forma de ajuda que anuncia outras mais pessoais e desmaterializadas, como uma palavra amiga sempre presente ou um estender de mão... Sei também que à semelhança do que fizeram os meus amigos que organizaram este evento, ou de todas as pessoas, que mais ou menos próximas de mim, contribuiram, eu faria igual.
AS CONTAS:
.Com o dinheiro angariado, a entidade responsável pela organização do evento, a Associação Albufeira Activa, criou uma conta bancária em nome da Associação, única e exclusivamente com o propósito de congregar essas verbas para investimentos futuros que eu venha a precisar. O acesso é feito apenas pelos dois dirigentes da Associação, imediatamente a seguir a algum pedido que eu venha a fazer.
.Resolvi, para que fosse mais simples e organizado, transferir algumas ofertas entretanto feitas na minha conta para a dita conta da Associação. Por um lado, fica tudo congregado numa conta só. Por outro, não me parece correcto diluir na minha conta pessoal os meus dinheiros com o dinheiro que me é oferecido para um fim em concreto. E sendo dinheiro dado pela comunidade, parece-me que a comunidade tem direito a saber quanto deu e como será empregue. Assim, justifica-se a utilização desta conta e a realização deste blog, que incentivado por amigos, nasce com o objectivo de dar algumas notícias sobre mim, a minha situação e o meu dia-a-dia, bem como para ir relatando as contas das ajudas e futuros investimentos.
.Disponibilizo aqui o nib da conta Solidariedade/Albufeira Activa para quem quiser contribuir monetáriamente para uma ajuda futura à minha situação.
.NIB 001000004135265000189 do BPI
.Será bom que quem faça uma contribuição, e assim queira, se identifique, quer sendo depósitos ao balcão ou transferências automáticas. Para que eu saiba quem me ajuda e poder agradecer.
.Em seguida seguem documentos relativos às contas até à data.
Documento 1: relativo às participações e resultado financeiro do evento realizado na ESA a 27/06/2008. Desde já, um agradecimento muito especial para a Escola Secundária de Albufeira, no corpo da sua direcção e seus funcionários. Pois, não só disponibilizaram o espaço e todas as condições necessárias à realização do evento, sem quaisquer objecções ou entraves, como também participaram em toda a organização e desenlace do mesmo! Muito obrigado ESA.
Documento 2: relativo às ajudas monetárias que me têm dado. Aqui estão descriminados todos os depósitos e ofertas que me têm feito. Houve alguns depósitos que, por anonimato, não consegui saber de quem vieram. No entanto, o geral está apresentado.
.O total à minha disposição na data de 13/08/2008 é de 11705euros.
AGRADECER PORQUE É DEVIDO.
.É difícil para mim expressar de forma clara e sucinta o agradecimento que sinto por tudo o que têm feito por mim. Mais do que o dinheiro, sinto e regozijo-me pela atenção dada pelas pessoas. Quanto valeu todo o apoio e suporte dado em tantas visitas que me foram feitas ao longo destes meses de internamentos? E quanto tem valido quando, amiúde, me fazem sentir válido e normal, com avidez pela minha presença? E os telefonemas que, quebrando a barreira das distâncias, me mostram o quão próximo estou e estão de mim...
.Sei que a vida continua. A minha, não terá forçosamente que continuar a ser a ver as dos outros a desenrolarem-se a grandes velocidades... As dos que seguem, continuam a grandes velocidades pelos desafios que a vida lhes impõe. Mas sentir que até estes têm, aqui e alí, tempo para os que, como eu, ficam para trás, é o melhor que se pode ter...
.Nesta saga do Arraial agradeço...
.Muito especialmente àqueles amigos de sempre, que participaram na organização. A maioria deles, meus colegas de escola, alguns do tempo da primária, souberam respeitar a diferença, e deram-me sempre o benefício da duvída à medida que me afastava ou fazia escolhas opostas às suas. Foi há uns anos, quando me voltei a aproximar, que senti que eram amigos verdadeiros, tal foi a forma calorosa e sincera que me foram recebendo. Agora, tenho tido a "prova dos nove". Pois estes estão na linha da frente da batalha da Amizade.
.Uma grande gratidão vai também para todos os meus amigos, que me têm feito sentir muito querido e especial. Conto com todos vocês mais do que nunca. E espero que continuem a contar comigo também.
.À minha família, que nada me tem desiludido. Mostrando-me aquilo que eu esperava. Até neste evento fizeram questão de marcar presença.
.À Escola Secundária de Albufeira, de onde eu tanto tirei para a minha formação e personalidade, e que agora, depois de tantos anos, abriu as suas portas para me ajudar. E se se poderia esperar a colaboração para a organização de um evento de solidariedade, o que me foi dado foi muito mais. Ver várias professoras que me ensinaram, muitas ainda no activo, a demonstrarem um grande entusiasmo e alegria por me verem e poderem-me ajudar, foi muito especial. Sentir um carinho maior por parte de toda a equipa docente e funcionários foi muito reconfortante. A actual directora, a minha professora Célia foi, em síntese, o espelho de tudo isto.
.À Câmara Municipal de Albufeira, que disponibilizou material de som e palco para que se realizasse a parte musical do evento, bem como uma série de facilidades logísticas. Na voz do seu Presidente Desidério Silva, ouvi palavras de consolo e de interesse pela minha situação.
.E no geral, a toda a comunidade. Acorreu, participou, colaborou e ajudou. Ainda há compaixão neste mundo da humanidade!
Video 1 do Arraial: Igual a si própria, a minha mãe subiu ao palco e deixou um agradecimento. Comovida, recitou umas palavras da sua autoria, focando o apego e amizade que ela própria sente pela cidade de Albufeira e as suas gentes.
EM QUE GASTAR?
.Várias das pessoas que me foram dando dinheiro, talvez sabendo como este é volátil e necessário numa situação difícil como esta, me foram dizendo "toma, para o que precisares" ou, "gasta no que quiseres"... Sem dúvida que urge uma esquematização de prioridades para se perceber qual a ordem das necessidades. Assim, passei a acumular todas as ofertas para, mediante as necessidades, ir dispondo delas de forma organizada e sistemática.
.Neste momento, em meados de Agosto, sei de fonte segura que em breve avançarão as obras de adaptação da minha casa. A companhia de seguros de trabalho assume as despesas, concluindo que o meu internamento dispendioso só será interrompido mediante o aparecimento de condições físicas mínimas na minha residência. Isto mesmo foi sugerido e invocado à seguradora pela directora clínica do Centro onde estou. Ou seja, muito graças à sua força e vontade, esta questão verá um fim em breve. Claro que o dinheiro do internamento é bem vindo ao Centro. Mas mediante a impossibilidade de avanços significativos na minha condição e uma necessidade de regressar a um dia-a-dia mais comum, inserido numa rotina normal, levam a doutora a agir de forma firme e sempre em prol do doente. Questionem-se: e se não houvesse seguradora envolvida? Então, provavelmente já os internamentos teriam acabado e não haveria obras de adaptação absolutamente nenhumas...
.A questão das obras é uma prioridade. Dispondo da possibilidade de adaptar a casa dos meus pais, era sem dúvida de fazê-lo. Havendo essa possibilidade aberta na lei, eu teria que fazer valer o meu direito. Porquê viver numa casa que não me oferece a possibilidade de realizar as minhas higienes diárias ou transitar facilmente de uma divisão para outra? Pedidos orçamentos e apresentados à companhia, o custeado será de cerca de 14mil euros! Basicamente compreenderá o alargamento de quatro portas vitais à minha fácil circulação dentro de casa e acesso a ela, com a implementação de portas de correr em substituição das tradicionais de abrir. A conversão de uma garagem com cerca de 15m2 num quarto com cerca de 20m2, através do derrube de uma parede e, a reformulação de uma casa-de-banho próxima a esta garagem, numa casa-de-banho maior, mais cómoda e adaptada para o uso. Claro, tudo com os devidos acabamentos adaptados.
.Estas obras demorarão cerca de 4 semanas, pelo que no final do mês de Setembro, a fazer um ano do acidente, terei a casa minimamente adaptada.
.Alcançada esta vitória, a batalha seguinte mais próxima será a das ajudas técnicas. Entenda-se, cadeira-de-rodas, cadeira-de-banho, standing-frame (aparelho para a colocação em posição estática vertical), colchão de cama, tábuas de transferência, bicicleta eléctrica de mobilização dos membros inferiores, pesos, colchões de treino, aparelho de estimulação eléctrica, tudo o que permita a minha mobilidade e exercícios mais básicos em casa. Talvez até uma cadeira-de-rodas eléctrica que facilite a mobilidade num raio mais curto em redor de minha casa que, por inexistência de acessos, torna completamente impossível qualquer tipo de deambulação nas imediações com uma cadeira-de-rodas normal. Quem sabe até, um elevador de piscina, uma estrutura que funciona "tipo grua" e permite o fácil acesso à pequena piscina construida pelos meus pais e que poderá ter um lado fundamentalmente terapêutico para mim. Tudo isto assumia eu como obrigação legal da seguradora de trabalho. Mas os últimos contactos que têm sido feitos, deixam antever algumas reservas por parte desta em cumprir tal desígnio. Claro está que, custeado pela segurança social, baseado nos meus rendimentos e declarações de IRS, os materiais fornecidos seriam de má qualidade e não todos os necessários. Mas eu, na minha boa-fé e ingenuidade, ainda quero crer que será a seguradora a custear todos, e bons materiais que eu precisarei. Há também a questão do "timming". Tendo eu alta em breve, terei já estas questões definidas e resolvidas? A ver vamos...
.Ultrapassando estes problemas de curto prazo, outros se levantarão de futuro.
.Quem me pagará todo o material do qual passarei a necessitar diariamente para o resto da minha vida? A segurança social, como o faz (actualmente) nos demais casos, ou a seguradora? Se a seguradora, até quando? E cobertura médica futura por parte da seguradora. Terei? São tudo questões que ainda não sei a resposta com clareza...
.Um carro, que pelo isolamento da casa dos meus pais e pelas naturais dificuldades de mobilidade, passarei a necessitar vitalmente se quiser ter uma vida profissional e socialmente inserida.
.Uma possível ida a Cuba ou a outro sítio qualquer que apresente garantias razoáveis de melhoria na minha condição, por mínima que seja. Partindo do princípio que daqui para diante qualquer internamento a que me queira ou necessite de sujeitar terá que ser muito bem fundamentado e poderá ser, ou não, financiado pela companhia de seguros...
.Sob a mesma lógica da possibilidade anterior, qualquer tratamento, operação experimental, ou não, a que me queira sujeitar ou que para tal seja aconselhado. Concretamente a hipótese de um futuro implante de um neuro-estimulador de controlo de esfíncteres.
.Idas ou recursos a qualquer tipo de terapêuticas alternativas, que por assim serem, jamais serão aprovados ou financiados pela companhia de seguros em caso (Generali).
.Concluindo, não pretendo viver da caridade da comunidade. Terei direito a uma indemnização na parte do direito penal/cível, não sei de que valor, muito menos de quando a receberei. Conservo, apesar de tudo, uma ínfima parte das armas de que dispunha para trabalhar antes de ter tido o acidente. Pretendo usá-las. Tampouco desejo ser financeiramente dependente dos meus pais. Já me chegarão outras dependências. Mas qualquer apoio de quem mo quiser dar, é bemvindo!
Video 2 do Arraial: Um pequeno excerto da actuação musical da banda Jah Lita Friends. A par da organização, esta banda, da qual faz parte o meu amigo Bernardo (voz e guitarra), fez questão de participar também, dando o seu som à festa.
Video 3 do Arraial: Imagens do jantar capturadas pelo meu primo David. Se alguém quiser enviar material para publicar, façam-me o favor. Eu não disponho de mais nada.
1 comentário:
Força Pedro
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